quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Pulo em Berlim

  E foi assim que iniciei o que eu deveria fazer. 
Lágrimas estavam caindo de meus olhos, e eu sabia que a tristeza cortava a minha alma como uma faca recém afiada... Eu olhei ao lado de mim, e a única coisa em que eu poderia ver era o silêncio mortal de qualquer outra coisa existente no planeta. Eu estava certa e fazer isto? Bem, eu não sabia. Olhei o prédio de 18 andares, abaixo de mim só via pessoas como simples formigas, ou apenas pontos com micro pontos coloridos, que aquilo, como eu sabia, eram as roupas delas.  
Era difícil pensar assim de uma altura que jamais eu teria imaginado. Eu tinha tanto medo e eu sabia que estava pra chegar logo no fim. Tenha cala, eu pensei. Em apenas um pulo tudo terá sido terminado. Pensei naquilo que prendia os meus pés, aquilo não teria me dado a chance de andar ou apenas desistir de qualquer outra coisa. Eu teria que fazer aquilo. O meu coração pulsou e me pergunto tantas vezes o motivo de eu estar fazendo aquilo. Foi ai que a resposta simplesmente apareceu: Eu necessitava pular para dar um fim naquilo tudo. Eu não tinha mais motivo pra seguir a minha vida do jeito em que eu estava fazendo.  
tristeza se debateu mais uma vez em mim. Fechei os meus olhos e tentei ignorar todas as pessoas que estavam olhando em minha direção. Poucas foram as vezes em que eu tive atenção, uma boa atenção desde que cheguei por aqui. Me sentia uma idiota muitas vezes em que eu tentei encontrar uma saída ou uma razão para viver. Me sentia mal por ser a pessoa em que eu era. Me sentia mal por morar com pessoas que não queria viver comigo, me sentia mal por ter que contar comigo só, todas as vezes em que eu me sentia só, tinha que cantar ou apenas dançar com a minha sombra. Todos seguiam as suas vidas e eu tinha sensação que eu tinha esquecido de viver a minha ou tinha aprendido a ignorar o que eu deveria viver... Se eu soubesse que teria sido assim, jamais teria escolhido tal caminho.  
Algumas pessoas são realmente insensíveis, nos fazem nos sentir tolos e como se fosse mais, ou como se não fosse mais importante o ser em que nos somos, apenas o fato de aceitar as ordens do jeito em que elas são. As pessoas não tem ideia de como é difícil aceitar nossos próprios erros, mas o erro não está em não se aceitar, está em descontar nos outros o que não somos capazes de fazer. Alguns pensam que pelo fato de sermos jovens, somos incapazes de pensar ou de seguir em frente.  
Em nosso coração se há uma chave, e do jeito em que damos esta chave nos faz ser amados ou simplesmente suportados. Ninguém precisa se tornar o rei de alguém, ninguém tem o total controle de um coração externo. Damos nossa chave a quem quer que querermos por perto. Se tomas a chave, perdes muito mais do que a entrada da nosso amor real, tomas tudo aquilo que jamais você desejou a si mesmo. Tomas o nosso desprezo e a nossa incapacidade de querer ficar próximo ou de ser verdadeiro.  
Olhei mais uma vez para baixo e me perguntei se vaia mesmo a pena... Um som de longe me chamou atenção. Quem estava ali? O meu corpo estava querendo seguir até embaixo, ir até onde eu não pudesse mais ir, ir além do que eu poderia fazer, ir além do que eu tinha imaginado. Deveria terminar com isto antes mesmo de saber o motivo de eu fazer isto. Eu não estava querendo fazer mais isto... Eu estava desistindo... Eu estava desistindo de desistir, de desistir de todos os erros em que eu cometi... E isto não era nada fácil. Cada um tem a escolha, tem a escolha de continuar a viver ou de simplesmente de interromper.  
Decidi interromper toda a dor que estava sendo causada em mim. Decidi voar entre as estrelas e encontrar o que outrora fora bom, em terras desconhecidas, em terras em que jamais eu iria saber se não os provasse, e assim eu corri, eu corri e corri. E me joguei. 
De olhos fechados a principio me joguei e senti o vento ondular meus cabelos. O medo que fazia meus olhos fecharem foi substituído pela adrenalina e me fez abrir os olhos. Assim Vi as pessoas se aproximando cada vez mais rápido e assim o chão. Meu coração silenciou, meu coração parou e um grito em minha alma foi escutado. Eu tinha conseguido, eu tinha quebrado a barreira do medo e tinha realmente pulado. Eu sabia que jamais faria isto novamente, mas isto havia sido algo que fez o eu morrer ali, e eu necessitava fazer isto, e foi ai que os meus olhos se abriram, tirei todos os equipamentos de segurança e  me sentei. Eu não sabia que teria tanto medo de pular de prédios fosse um esporte bom, e eu não ia fazer novamente, mais eu precisava romper esse meu medo.