Não sei o motivo real que ele fez esse convite, mas minha curiosidade transpunha qualquer outra coisa em mim, eu tinha que ir. Quem mandou ser assim? Eu podia controlar muito bem minha curiosidade, não poderia? Talvez eu realmente quisesse algumas respostas. Mas minha imprecisão, quanto ao que eu ia sentir nesse encontro, me fez hesitar o aceitamento. Fazia tanto tempo isso... Enfim, fui.
Foi difícil. O meu dia foi corrido de mais, tantas coisas a fazer... O céu estava repleto de estrelas. Pensei "Deus olhou para mim e disse que eu brilhava. Mas no meio de tantas estrelas no céu, eu seria mais uma. Então disse que eu iria para terra e iria iluminar, tanto a mim quanto as pessoas que estivessem ao meu redor". Cheguei morta de cansada em casa. Só queria banho e cama. Comi, assisti a novela e fui pra cama.
Tentei dormir, juro! Quando estava me permitindo começar a entrar no mundo dos sonhos, lembranças vieram a tona em minha mente. De lembrança e lembrança quase não consegui pregar os olhos. Enfim, amanheceu. O sol brilhava muito. Tomei aquele banho revigorante. O dia seria cheio de surpresas, agora eu só precisava saber o ele queria comigo.
As horas se passaram e a hora do encontro não chegava. Teria eu algum motivo para ficar apeensiva? Claro que não! Eu tenho que me concentrar nos meus afazeres. Ninguém iria fazer isso por mim. Cada um tinha uma coisa a fazer e não seria eu a atrapalhar as coisas que os outros estavam fazendo. Sentada na cadeira, em frente ao meu
pc de trabalho. Observei a janela. O Céu estava azul clarinho, com poucas nuvens brancas. Lindo dia para ficar presa em um departamento público. Enfim, fazendo meus afazeres. Ao olhar o relógio, percebi que passei da hora de largar. Eu iria me atrasar ao bendito encontro. Me organizei e sai. Passei por algumas lojas e olhei, distraidamente, os objetos que se encontravam lá para serem vendidos. Havia algumas coisas curiosas, como um relógio no formato de banana de dinamites, placas com dizeres "cuidado, há um coração pegando fogo", eu rir com essa. Quem iria por uma dessas no portal de um quarto? Tinha um pigente que dizia "cuidado, namorado ciumento". Ai, sério isso? Mentira? Eu não colocaria esse aviso em mim, mas acharia engraçado um homem dá isso a sua namorada. Fui olhar a hora, foi ai que eu percebi que meu celular havia descarregado. Estava sem relógio, então me encaminhei ao local que fora marcado.
Havia tantas pessoas lá que a princípio eu não o vi. As zuadas eram claras. Pessoas chegando e pessoa saindo. Havia movimento para todas as direções. Claro, estava na praça de alimentação. O cheiro estava bom. Eu poderia comer algo, não poderia? Provavelmente ele iria demorar
ozentas horas. Então... Procurei um sanduíche e comprei. Sentei e comecei a comer. Já havia passado trinta minutos e nada dele chegar. Terminei de comer, me levantei e fui em direção ao banheiro.
- Laura? - a voz era estranhamente familiar. Algo corroeu no meu estômago. - Laura? - mais uma vez ele falou. Virei e quase parei de respirar. Mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de tantas coisas que aconteceram, mesmo depois... Ele ainda mexia profundamente comigo.
- Oi - eu disse.
- tudo bem? - ele perguntou. Não consegui ler a expressão dele. Estaria natural? Nervoso? Frio? Cabeça minha. Estaria eu perdendo tempo pensando essas coisas?
- Sim - eu finalmente disse. O silêncio se formou entre a gente. O que deveria ser dito? Mesmo me sentindo profundamente mexida por ele, senti mais que um ar de atração, senti um ar de estranheza. Se tivesse na frente de um estranho sentiria o mesmo. Pensei em sair. Haveria algum motivo forte pra ficar? Sim, havia. Eu queria estar ali. Eu queria respostas, mas independente do que fosse dito, nada apagaria o que tinha sentido.
- Vai falar alguma coisa? - Eu disse. - Se não for, melhor eu ir andando. Afinal, não cheguei aqui para ficar escutando o silêncio. - Nenhuma alteração dele. O que há? Céus! Isso já estava virando um projeto de tortura. ''Tonta'', pensei. Olhei para ele mais uma vez. - Há algo errado? Por que não falas nada? - e ele continuou na mesma. Mas que droga! Ele não poderia fazer isso. Não poderia. - Olhe, vou nessa.
- Não. - Ele disse. - Vamos conversar um pouco?- Isso significava uma coisa: ele não iria entrar no assunto primeiramente. - Bora sentar?- e apontou para um lugar no meio da praça de alimentação.
- ok, vamos. Mas não ali. - Me virei e sentei numa das cadeiras próximas a uma das laterais. No meio atraia muita atenção. Não queria que as pessoas ficassem olhando para mim. Eu não gostava disso, Além de não querer que alguém me visse ali, principalmente com ele. Não que isso fosse errado, mas não queria comentários do tipo 'vocês voltaram?'. Já era dolorido pensar que não estávamos juntos, não queria ter que negar. Enfim, sentei. Ele me seguiu e sentou em frente a mim.
- E ai, alguma novidade? -
- Um monte, eu diria -
- Um monte? Pode começar? Temos muito tempo para conversar.
- Muito tempo? Eu não diria isso. Eu tenho muitas pra fazer quando sair daqui.
- Mentira sua.
- Mentira? Como podes dizer isso?
- Se você tivesse algo para hoje, já teria ido. Afinal, você está uma hora atrasada.
- Eu não estou. Cheguei aqui faz tempo.
Procurei e não te encontrei. Aqui você não se encontrava.
- Não viu.
- Vi sim.
- Não viu não.
- Garota, eu tava sentado quase na sua frente. Pensei que você estava até me ignorando.
- Ignorando? Eu não te vi.
- Viu sim. Acenei e você não correspondeu.
- Não te vi. Apenas isso.
- Sou invisível?
- Rezei por muito tempo para que isso acontecesse. Você poderia até me ver, mas não o contrário.
- Sério?
- Teria eu algum motivo para mentir?
- Não sei. Terias?
- Céus! Fale logo o que queres falar. Para de ficar enrolando! Sério. Há algo que queira falar? Há algo que queira fazer? Seja direto!
- Parece que tens pressa. O que há? Você nunca foi assim. Você não é assim.
-Nossa! Falas como se pudesse conhecer todo o meu ser, de uma maneira tão simples, como se pudesse me ver como eu sou interiomente como se fosse um roupa.
As pessoas estão em constante mudanças. O que você é hoje, pode não ser amanhã.
- Grossa nada você, não?
- Estou começando a ficar impaciente. - Olhei para os lados e comecei a reparar nas pessoas que estavam ao nosso redor. Algumas comiam, outras riam, algumas conversavam bem alto. Outras estavam adorando seus parceiros. Eram amigos, eram familias, namorados, ficantes e até desconhecidos largados em todos os cantos. Alguns se encontravam em grupos, outros estavam só. Senti uma mão fria tocar no meu braço, esse toque me deu um susto e quase saltei da cadeira. Foi quando me lembrei que estava com ele ali. Demorou mais um pouco para a ficha cair, ele realmente estava lá. Uma irritação começou a brotar do meu ser. Por que eu estava ali? Por quê? Eu estava doida? Quantas noites eu passei chorando? Quantas horas do meu dia eu passava pensando nele? Céus! Eu não estou bem. Me levantei e virei as costas para ele. Eu não poderia passar mais um segundo ao lado dele.
- Pra onde você vai? - parei e não me virei para olhá-lo. - Espera um segundo sim? Mas antes, olhe para mim.
O silêncio se formou mais uma vez. Isso estava me tirando do sério. Me virei e fitei os olhos castanhos-escuros dele.
- Só preciso te perguntar uma coisa. Podes me responder sinceramente? - ele perguntou.
- não tenho motivo algum para mentir ou ocultar uma resposta. Pergunte.
- Você ainda gosta de mim?
Um sorriso breve se formou nos meus lábios. Teria ele feito essa pergunta mesmo? Teria sido algum pensamento que tenha virado algo quase real? Não... Ele não fez.
- Laura? Você me ouviu? Posso repetir a pergunta novamente. Você ainda gosta de mim?
- Eu não usaria a palavra gostar, meu caro.
- Usarias qual, então?
Eu pensei que isso nunca iria acontecer, pensei que essa cena só iria perpetuar a minha imaginação até o meu último suspiro. Olhei o rosto dele, havia tantas mudanças ali.
- Se a verdade queres ouvir, a verdade terás. A palavra que eu usaria... Ou melhor, a palavra que uso abrange muito mais do que gostar. Gostar é usado para coisas comuns. Eu gosto de Fanta, de bolo de laranja, de suco de limão, suco de acerola. Gosto de dançar, gosto de desenhar, gosto de de ficar só as vezes, gosto de ter muitos amigos.
-Você me ama?
- Se eu te amo, meu belo ser? A resposta seria a mesma se tivesses me perguntado se há estrelas no céu noturno, se a água do mar é salgada, se o arco-íris é colorido. Eu te amo, mas junto a ti uma noite eu não desejo passar. Não confio mais em você. Não gosto de sentir a ansiedade que eu vivia sentindo. Você seguiu em frente, e deixou bem claro que não queria mais a minha presença em sua vida. Levou muito tempo para eu conseguir diminuir o vazio que se formou no meu peito. Você não sabe o que é isso.- e com uma última olhada, sai. Fiquei me sentindo estranha. Não sabia se era isso que eu deveria fazer. Não quero lágrimas. Era incrível. Ele conseguia me deixar tão bem. Sei lá. Gostaria que isso fosse diferente.
- Para!- Ele gritou quando eu tinha chegado na escada rolante. Me virei assustada. Percebi que as pessoas ao meu redor estava olhando para ele. Ele não podia fazer isso. Eu não gostava quando as pessoas ficavam olhando para mim. Ele começou a andar em minha direção. Balancei a cabeça, com a finalidade de negar, ele olhava para mim, mas se ele se aproximasse mais, eu sabia que as outras iriam olhar para mim. Ele não tinha o direito disso.
- Pode parando ai
- Pra que você está gritando?
- Eu não sabia o que fazer. Por favor, não vá embora.
- Por que não? Você foi embora primeiro, lembra?
- Mas não vá.
- Juro a você, eu não te entendo. Sentes algum prazer em trazer a magóa para mim? Sério. Se não fosse o... Você é o único que consegues me acalmar com apenas o olhar, meus pensamentos se aquietam quando estou do seu lado, não sinto nenhuma confusão... Mas aprendi a ser apreensiva, a não saber o que você vai fazer. Sinto que faço as coisas para tentar entrar na sua vida e você... Você sempre vem com alguma coisa para negar essa minha entrada... Olho para você e não sei o que pensar. Sempre com alguma desculpas tens na boca.
- Me perdoa?!
Olhei para ele.
-Te perdoar? Do que pedes perdão?
- De tudo.
- De tudo?
- É. De tudo.
- Quando você fala ''tudo", estás se referindo de que exatamente? De o você ter entrado em minha vida? Ou de ter saído dela bruscamente? Das palavras que você disse? Todas elas? Incluindo coisas boas e ruins? Dos carinhos que ofereceste para mim? Das mensagens? Das fotos? Das brincadeiras? Da diversão? Do que exatamente? - mil coisas se passavam em minha mente. Eu estava começando a ficar nervosa. Não conseguia ver mais um centimetro na minha frente. Eu tinha que sair dali. EU TINHA QUE SAIR. Eu não daria dez minutos para começar a chorar, já estava no meu limite, quase não conseguia me segurar. Céus! Que coisa! Se isso fosse um teste, eu teria me dado bem. Se ele fosse um professor, ele seria o único que eu teria reprovado. Se ele fosse professor? Essa ideia me fez sorrir. Imagina só, 'professor Henrique'. Nome bonito demais para um professor. Isso seria algo estranho. Nunca tive nenhuma fantasia com um professor meu. Bem, ele seria o primeiro. Outro sorriso se alargou nos meus olhos. Imaginei uma cena que seria proibida para crianças. No birô, ele usando o 'seu piloto' para 'marcar as devidas marcações'. Isso me fez cair numa pequena gargalhada.
- Laura? Você me escutou?
- Oi? Sim. Ou melhor, não.
- As vezes só queria que você compartilhasse seus pensamentos comigo.
- As vezes só queria que você compartilhasse sua vida com a minha.
- Como assim?
- Nada, falei de mais.
- Fale.
- Há alguma diferença?
- Claro! Claro que há.
- Sinto uma angústia em mim quando espero por você. E você já me deu motivos para eu entender que isso não é possível. Desculpe por insistir tanto.
- Não se desculpe por isso.