quinta-feira, 30 de maio de 2013

De primavera a primavera - Episódio 1

Estava boba, outra vez.
O sorriso dele sempre me deixava assim, me dava vontade de sorrir também...
Ele era o ser mais encantador que eu tinha conhecido. Ele trazia uma paz boa, uma inquietação que me fazia querer viver um pouco mais. Por mais que eu tivesse estressada com os meus alunos ou com qualquer outra coisa... Ele sempre parecia radiante... Eu acho que estou enamorada...

Certa vez, quando eu conheci, era estranho, ele estava todo sujo. Ele estava vindo de uma aula de campo no zoológico... Ele estava arretado, ele não pensava que iria entrar realmente do 'campo' no Horto de Dois Irmãos. Eu estava lá, pique-nique em família. Eu estava procurando meu irmão caçula, ele tinha a mania de sair escondido e brincar em algum lugar onde não pudéssemos vê-lo.

Namorados
Eu acho que estava mesmo querendo fugir da minha família. Eram brigas, picuinhas ridículas... Eu não estava aguentando mesmo aquilo. Às vezes era simplesmente angustiante ser palco, e ainda era pior quando eu estava envolvida. Acho que o meu irmão sentia isso e por isso fugia... Eu queria apenas paz. Era ruim pensar isso? Todos tinham problemas, mas isso não quer dizer que era preciso jogar isso na cara dos filhos... Eu não era escudo de nada, tão menos uma arma. As pessoas têm um falho costume de maldizer aqueles que estão próximos com o intuito de se livrar de uma dor sofrida em outra situação.  Eu não gostava disso. O pior era quando a gente falava alguma coisa e era completamente distorcido pelos nossos pais. Eu queria, realmente, era sumir, por alguns minutos, algumas horas, alguns dias, alguns anos... Não importava o tempo em si, mas a sensação de bem estar viver novamente no meu ser... Isso não poderia ser impossível. Eu estou indo pra qualquer canto.

Quando eu vi o cara sujo de lama, me deu vontade de rir, não só porque ele estava sujo, mas pela posição tosca que eu o estava vendo. Ele estava ajoelhado no meio da trilha, procurando algo e, de repente, se levanta num salto, tentando tirar algo do braço. A principio pensei que eram formigas, mas depois vi o que era. Era uma aranha enorme. Me aproximei e tentei ajudar a tirá-la dele. Ele levou outro susto quando sentiu a minha mão. Foi quando me prendi nos olhos dele... Era um castanho vivo, era uma cor entre o dourado e o vermelho... Eu nunca tinha visto algo parecido. Nem reparei se ele estava ocupado, se estávamos numa trilha de formigas que ‘cortavam a nossa pele’, nem algo parecido. Não sei quanto tempo nós ficamos assim, só conseguia ver os olhos castanho-estranhos que ele possuía... Foi ai que eu vi o sorriso dele, foi algo simples, mas completamente contagiante... Pela primeira vez hoje me senti bem.

Ele – Oi.
Ela – Oi.
Ele – Tudo bem?
Ela – Sim. E acho que a aranha sumiu.
Ele – Caramba...Era uma aranha?
Ela –  Não se preocupe... Não era uma aranha venenosa.
Ele – Como você pode saber?
Ela – Li sobre isso num livro de Ensino Médio.
Ele – como você se chama?

Ela – Antigamente a gente dizia  o nome primeiro  antes de qualquer outra parte da conversa.
Ele – Se não disseres teu nome, como vou poder agradecer a corajosa e admirável atitude de me ajuda?
Ela – Eu já disse que não era uma aranha venenosa.
Ele sorriu mais uma vez, balançando a cabeça. – Se a sua intenção é me tranquilizar, está conseguindo. Por um momento pensei que era uma viúva negra.
Ela – E você viu a aranha para dizer isso?
Ele – Eu vi algo vermelho e cheia de perninhas. O que achas que eu iria imaginar?
Ela – Verdade... Era uma aranha, mas o tipo dela eu não vou dizer...

Ele – Então era mesmo uma viúva-negra?
Ela sorriu com gosto agora. Ela estava se sentindo leve.  
Aquele dia foi muito bom e para sempre ficaria marcado na memória dela. Foi o início de uma amizade prazerosa. Certa vez ela havia dito que estava super nervosa para uma entrevista que teria, eles viviam mandando mensagem um para o outro. No dia da seleção, ela havia esquecido o celular em casa e não havia se dado bem. Havia outro candidato certo para a vaga. Ela estava Cansada disso. Chegou em casa e lembrou do celular, quando pegou, havia 22 mensagens dele. Umas desejando boa sorte, outras perguntando se havia ido bem na entrevista, outras perguntando se havia acontecido algo. E, claro, eu estava sem crédito. Entrei no face dele e deixei o recado de que havia ido bem e que esquecera o celular carregando. Depois disso sentou na cama e começou a chorar. Não que ela não pudera ser capaz de ter passado, mas que achava injusto isso. Se a vaga já era destinada para um alguém específico, que não fosse anunciada. O celular vibrou, era uma mensagem dele.

“Posso te ver hoje a noite?”
Minha irmã havia saído e colocou crédito no meu celular, então respondi.

“Isso vai depender de você. Se você conseguir enxergar, me verá”

Ele respondeu prontamente.

“ Você e suas brincadeiras. Eu sei que você entendeu, mas se queres que eu explane, explanarei. Quer sair comigo hoje?”

Seria uma boa ideia encontrar com ele.

“Meu ‘sim’ significará que vamos nos encontrar hoje? Se for isso, claro que quero!”

“Me encontres na praça? Me refiro aquela que fica perto da Bacana, em Olinda. Perto do Carmo. Em 20 minutos?”

Eu ri com essa.  Eu levava 20 minutos para chegar lá, mas ainda teria que me aprontar...

“Será bom dá uma caminhada pela orla de Olinda... Ok. Te vejo em meia hora então”. Me levantei e fui me aprontar. Demorei um pouco mas de 15 minutos e sai.


“Sai agora, acho que vou chegar ai em 17 minutos.”

Cheguei lá e ele não estava. Olhei para o relógio. Não havia me atrasado tanto, havia levado exatamente os minutos em que eu havia dito.

‘’Onde você está?”
“acho que vou chegar ai depois que você.”
“Como você sabe que eu já cheguei?”
“Estou te vendo”
“onde você está? Ainda não te vi”
“Eu disse que vou me atrasar. Queres vir aqui? Podes me esperar aqui”
“Onde é esse aqui?”
Rolou os olhos pelo lugar a procura dele. Ele deveria estar perto, afinal ele estava me vendo. Procurei algum lugar que fosse algo que ele pudesse trabalhando, olhando as possíveis janelas que ele poderia estar... Dei de cara com aqueles olhos me encarando. Guardei o celular enquanto eu me encaminhava para onde ele se encontrava. Ele se afastou da janela, atravessei a pista e, quando cheguei próximo ao estabelecimento, ele se encontrava na entrada.

Ele – temos novidades?
Ela – Infelizmente, não.
Ele – mas eu tenho.
Ela – tens?
Ele – eu só preciso terminar o que eu estou fazendo aqui.  Podes esperar alguns instantes? Prometo que vai ser rápido.
Ela – você sabe muito bem o que eu penso sobre promessa, que...
Ele – que você prefere que, se for pra ter que acontecer, acontecerá, que prefere a surpresa do quê criar expectativas... Eu sei. Só queria deixar claro que já estou terminando e que você não precisa se preocupar.
Ela – Entendi. Então comece a terminar, do contrário nunca irás terminar. Afinal, só terminamos aquilo que começamos.

Ele riu, assentiu e foi para o canto e sentou, voltando a sua atenção para um monte de papeis... Os segundos se tornaram minutos e os minutos se tornou algumas horas... Quando tinha começado a demorar, ela sentou e começou a ler O melhor de mim, de Sparks. Um amigo havia indicado aquela leitura e ela estava adorando. Fazia tempo que ela não lia nada parecido. Ela tinha lido pouca coisa, pois se distrai fácil-fácil quando estava em lugares movimentados, ela leu apenas uns 7 capítulos. Quando ela começou a se empolgar na história, sentiu uma mão no seu ombro, foi um pequeno despertar, que a fez lembrar-se de onde estava e o que iria, teoricamente, fazer. 
Ele – Vamos?
Ela – Sim. Pra onde?
Ele – Acho que a ideia inicial era dá uma caminhada. Vamos?
Ela – ah sim, claro.
Ele – Antes quero dá uma parada, lanchar. Queres?
Ela – Pode ser... Vamos.
Ele riu mais uma vez. Ele ria com uma facilidade incrível quando estava com ela... Ela era brilhante... Eles pegaram uns sanduíches e sucos e foram lanchar na praia. Estava anoitecendo, e, aos poucos, foram falando o que havia acontecido durante o dia, assim ele soubera que ela não havia se dado bem na entrevista. Depois disso, ela acabou se distraindo, mais uma vez, olhando o céu estrelado de Olinda. Era calmo... Era um bom lugar para esquecer qualquer outra coisa que fosse digna de ser esquecida... Começou a esfriar e ele colocou o braço por sobre o pescoço dela e ela descansou o rosto no ombro dele. A respiração dele começou a fazer cócegas no rosto dela. Foi uma sensação ótima... Ele não sabia que era bom abraçá-la daquele jeito. Algo fez com que ele tivesse a vontade de tocá-la. Quando ele fez a menção de fazer isso, ela girou o rosto e os dedos dele foram diretos nos olhos dela.
Antes que ela pudesse tocar no olho ou fazer alguma observação dolorosa, ele segurou a mão dela e beijou os lábios dela. Por um momento, ela ficou com os olhos abertos, fitando os olhos dele, e, por um breve momento, ele pensou que ela iria recusar de beijá-lo. Ela fechou os olhos e, como ele sempre sentia, ela relaxou e aprofundou o beijo. Aos poucos fui percebendo que aquilo iria acontecer em algum momento. Percebi que, isso iria acontecer. Olhe apenas no fundo dos meus olhos e perceberás o universo que eu entro quando estou contigo... Deves sentir o mesmo, do contrário não irias me procurar... Isto que estou sentindo não é o tipo de coisa que acabe por besteiras...  Nenhuma palavra poderá ser capaz de findar... Será que isso é amor? Eu me preocupava com ela... Queria saber se ela se encontrava segura... Eu sabia que ela poderia se sair muito bem na vida, mas era algo que me deixava inquieto... Era tão importante para mim vê-la bem... Ela havia tentado me acalmar no dia do zoológico. O que ela não sabia era que eu estava justamente atrás daquelas aranhas. Sendo que eu havia perdido a atenção por conta de uma trivialidade besta e, quando eu menos esperei, aquela maldita aranha subiu em mim. Sacanagem. Maior susto eu levei. Quando senti a mão dela sobre mim, jurava ser o  meu professor. Ele, as vezes, se dava um sumiço... Às vezes eu podia jurar que ele estava se pegando com uma caloura... 
Quando nosso contato labial foi interrompido, ficamos um olhando para o outro. Vi o rosto dela mudar, como se o relaxamento que ela havia sentindo ainda pouco instantes, fosse substituído pela culpa. Culpa? Que culpa? Até onde eu sabia ela era solteira e eu também. Ela fez menção de que iria se afastar, foi o que me motivou a passar o meu outro braço pela cintura dela, fazendo ficar onde ela estava. O que será que a fez fazer isso? Ela não podia ficar um pouco mais? Vi uma dúvida no olhar dela, algo que ela quisesse, talvez, perguntar.
- Acho que e não deveria ter feito isso.
- Por que não?
- Sei lá... Só acho que vai ficar estranho.
- Não vai.
- Vai.
- vá por mim.

E, realmente, havia ficado diferente, eu só não sabia que seria pra melhor... Os dias que se passaram depois daquele encontro na praia haviam sido divertidos e bastante estranhos... A gente acabou se encontrando e ficando um com o outro... Não consigo lembrar sem que um sorriso brotasse em mim. Era como se eu pudesse reviver cada toque, cada palavra... Era o início de uma face da felicidade que eu ainda não tinha conhecido... Eu poderia reviver cada segundo de novo... As férias chegaram e descobri que ele ia para um intercâmbio no ano seguinte. Ele ia para a Austrália.
 Fiquei feliz quando ele dissera aquilo, na verdade, ele tinha conseguido algo que eu acompanhei, eu o vi tentar e conquistar isso. Ele estava se sentindo esplêndido. Quando cheguei a minha casa, dei por mim a ausência que iria ter em minha vida... Ele... Me senti estranha... Me senti egoísta... Eu não poderia contar isso para ele. Ele não merecia... Mais que droga! Eu... Anta, anta, anta!

Deus! Por que eu estou me sentindo assim? Ele... Respira... Respira... Me olhei para o espelho e vi o meu reflexo... Eu não poderia ser tão egoísta... Meu celular tocou... Era ele. Eu não queria falar com ele agora... Na verdade, eu não poderia... Respira... ‘Acalme a mente’... Ele ficou falando nesta possibilidade por quase seis meses... Eu mesma o incentivei a fazer isso... Eu tinha a ideia de que ele poderia conseguir... Mas em nenhum momento, em nenhum, eu pensei na distancia...
Haveria algum tempo para que eles pudessem ficar um pouco mais...

---------------Fim do episódio 1---------------------
História completamente inventada, sem nenhuma ligação com a realidade.
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3 comentários:

  1. Não sei se isso é um conto ou se é uma novela. A diferença entre esses dois gêneros é tão pequena, que simplesmente eu não tenho ideia.

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